Chegamos à quarta matéria desta série que mostra vários detalhes do F-5EM, jato que por muitos anos ainda deverá formar a “espinha dorsal” da Aviação de Caça da FAB. Aproveitando que matérias anteriores mostraram os berços dos motores e parte das entradas de ar, por dentro (vistas a partir da parte traseira), mostraremos agora uma característica compartilhada pelo F-5 e outros caças de sua geração, o “acinturamento” das laterais, e como isso afeta os elementos internos da fuselagem.
Na foto que abre a matéria, vê-se claramente a linha lateral da fuselagem deste F-5EM, que traz as marcações do Esquadrão Pampa (1º/14º GAV), recuar para dentro na altura da metade da asa, “acinturando-se”. O máximo desse recuo corresponde, na foto, à divisão das cores cinza e verde da pintura na lateral da fuselagem, bem onde também está a linha da sombra projetada pelo hangar atrás do avião.
Nas duas fotos abaixo, tiradas de dentro do berço vazio do motor direito, pode-se ver como o duto de ar na lateral da fuselagem, quando visto por dentro, acompanha a sinuosidade da parte externa. Na foto à esquerda, ao fundo, vê-se a tomada de ar (podendo-se até observar parte do uniforme de um militar posicionado próximo a ela). Reparar como, a partir de um certo ponto, o duto recua mais para dentro da fuselagem, mais à esquerda da foto, para depois retomar a direção da lateral, mais à direita.
A foto da direita mostra todo o caminho até praticamente a posição dos bocais de saída do motor. Uma “parede” metálica (caverna estrutural) mostra o ponto onde inicia o berço do motor, cujo diâmetro é maior que o duto de ar (justamente o ponto em primeiro plano na foto da esquerda, tirada com “zoom”). Clicando-se na foto e olhando com atenção, pode-se perceber todo o caminho em “S” feito pelo duto.
A regra preconiza uma variação suave da seção transversal de uma aeronave, no sentido de seu comprimento, a partir de um “ótimo matematicamente especificado” do qual essa seção deve se aproximar.
Ou seja, as variações no diâmetro da fuselagem precisam ser suavizadas para que se aproxime de uma forma ideal para a transição ao voo supersônico, em que o arrasto transônico deve ser o menor possível.
Normalmente, o nariz ou fuselagem anterior de um avião de caça tem diâmetro menor do que a fuselagem central (onde costumam ficar as tomadas de ar) e a posterior (afetada pelo diâmetro necessário para a instalação de um ou dois motores mais a sua própria estrutura, o que deixa essa parte também com diâmetro maior que a parte anterior da aeronave).
Assim, quando o caça é acinturado na sua região mais larga, seu diâmetro passa a variar mais suavemente ao longo do comprimento. Esse recurso foi empregado, à mesma época, no protótipo do F-102 Delta
Dagger norte-americano, que apresentava dificuldades para atingir velocidades supersônicas. O mesmo foi alongado e ganhou carenagens (chamadas jocosamente de “carenagens Marilyn Monroe”) de modo a acinturá-lo. Como resultado, o caça passou a atingir desempenho supersônico sem maiores dificuldades. Seu sucessor, o F-106 Delta Dart, teve aplicados os mesmos conceitos, porém desde o projeto, sem necessidades de adaptações posteriores. Outro famoso caça que aplicou a regra da área ao seu desenho foi o Mirage III.
Voltando aos dutos de ar para os motores do F-5, que correm seguindo as linhas laterais da fuselagem, uma das consequências da sinuosidade dos mesmos é que, na parte mais acinturada, eles acabam se aproximando mais da linha central, o que gera um volume interno um pouco menor nessa área – justamente onde está o tanque de combustível, que no F-5 ocupa praticamente toda a fuselagem central. Vale lembrar que esse caça não carrega combustível dentro das asas, que são bastante finas e curtas, com boa parte do volume interno das mesmas sendo ocupadas pelas pernas e mecanismo do trem de pouso princiopal. Mas é o preço a se pagar para que um caça desse porte, e relativamente submotorizado, alcance um desempenho supersônico satisfatório.
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